Palavras, palavrinhas e palavrões, de Ana Maria Machado, era um dos meus livros preferidos quando eu tinha uns 7 ou 8 anos.
O livro conta, de forma bem humorada, as descobertas de uma menina que adorava palavras novas, mas estava sendo severamente repreendida por repetir algumas.
Na lógica da personagem principal palavrão era qualquer palavra comprida e difícil de pronunciar como Impublicável, Providências, Fonoaudióloga… A menina estranhava quando as pessoas reclamavam de palavras pequenas e simples que ela repetia. Diziam que estava sujando a boca com palavrões cabeludos.
“Que tipo de palavrões seriam esses? Cabeludos? Louros? Cacheados? Ela nem conseguia repetir direito, quanto mais imaginar a cara deles…”
Aqui em casa não deixo os meninos falarem palavrões e peço desculpa se deixo algum escapar sob intensas emoções! Meu marido também tem a boca limpinha.rsrs
Acho que o respeito começa a desandar quando liberamos a porteira dessas palavras tabu. Por outro lado, são apenas palavras que se referem a conceitos de sexualidade e excreção. Por que, então, elas teriam ganhado o poder de afrontar a sensibilidade humana?
No livro Do que é feito o pensamento – A língua como janela para a natureza humana – o cientista cognitivo Steven Pinker explica:
“Se as palavras tabus são uma afronta à sensibilidade das pessoas, o fenômeno das palavras tabus é uma afronta ao bom senso. A excreção é uma atividade que todo ser encarnado tem que fazer todo dia, e mesmo assim todas as palavras em inglês para ela são indecentes, infantis ou clínicas”.
Em português, também, as pessoas são educadas para dizer que “vão ao banheiro” ou “ao Toilette”, como se evacuar em francês fosse mais elegante. rsrs
Segundo Steven Pinker, a língua inglesa também não oferece opções polidas para outra atividade da qual ninguém pode fugir: Sexo.
“Os verbos transitivos simples para as relações sexuais ou são obscenos ou desrespeitosos, e os mais comuns estão entre as sete palavras que não dá pra dizer na televisão”.
“A reação de escândalo que outros usos evocam, mesmo entre pessoas que defendem a liberdade de expressão e questionam por que tanta onda em torno das palavras sobre sexo, sugere que a psicologia da magia das palavras não é só uma patologia de puritanos dados à censura, mas algo que faz parte da nossa constituição emocional e linguística”.
Nem entrei no mérito dos preconceitos de raça, religião e opção sexual que atribuem a certas palavras a conotação de violência verbal e moral e que dizem muito do contexto sociocultural em que são verbalizadas.
Como espero ter demonstrado, desde criancinha acho o tema do poder das palavras nas nossas vidas fascinante.
Recomendo os dois livros citados para quem compartilha esse interesse pelas origens e usos das palavras que moldam e são moldadas pela mente humana e seus reflexos nas nossas relações com o mundo.
Bom Final de Semana a todos!