Desde 23 de abril um bocado de ideias para um post chegaram e foram embora.
Espremi livros, filmes, músicas e reflexões desses 10 dias e acho que deu um caldo.
Aliás, a expressão dar um caldo pode ter muitos significados. O que eu queria dizer é que esse post quase passou da validade, mas ainda guarda um sabor agradável, espero.
Uma parte do post é dos Ditados vencidos.
A outra parte é dos Ditados sem prazo de validade.
Adivinhe quais Ditados já estão com cheirinho estranho…
MENTE VAZIA É A OFICINA DO DIABO
Dia 23 de abril, assistimos ao filme O homem que copiava que é de 2003.
André, personagem de Lázaro Ramos, é um operador de fotocopiadora, que gosta de desenhar, mora com a mãe e está apaixonado. Essa mente ocupada com o ofício, com o ócio criativo e com o amor tem ideias mirabolantes, ingênuas, perigosas, ilícitas…
No dia seguinte, andando aqui na Avenida do Imperador, atrás de uma batedeira, eu e meu marido entramos numa loja de utensílios domésticos e ouvimos a seguinte conversa entre dois vendedores, que nem deram bola pra nossa presença:
– Um dia vou sair do Brasil.
– Pra onde tu vai?
– Pra Espanha, Miami ou Havana.
– Havana? O que é que tem lá?
– Tem praias…
O resto da conversa não escutamos, mas ficamos imaginando o que o sujeito esperava encontrar em um dos destinos escolhidos: Muitos encontros amorosos, ofertas de empregos bem mais interessantes do que aqui em Petrópolis ou até ficar rico e nem precisar trabalhar.
Quantas outras pessoas, trabalhando no Mercado, na Feira, no Escritório de Advocacia, no Hospital, na Assembleia Legislativa, estudando na Faculdade de Engenharia ou de Economia, também imaginam atalhos para seus sonhos?
QUEM SAI AOS SEUS NÃO DEGENERA
Dia 27, passou no canal TV Escola o documentário QI: a história de uma farsa.
Segundo o documentário, o teste desenvolvido no começo do século XX, pelo psicólogo francês Alfred Binet, para medir atrasos no desenvolvimento de crianças em idade escolar, foi explorado por eugenistas que manipulavam dados para garantir a pureza étnica da sociedade.
Há pouco tempo o Congresso dos Estados Unidos cortava gastos com pessoas mais necessitadas com base na teoria de que a pobreza seria inata. O filme revela, inclusive, como as políticas sociais foram influenciadas pela ideia de que a inteligência é definida no nascimento.
PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS É REFRESCO
“A arte e a literatura têm conduzido seres humanos por jornadas empáticas desde que os cidadãos da antiga Atenas choravam pelos personagens que viam no palco durante o festival de Dionísio.
O teatro, o cinema, a pintura e a fotografia desempenharam todos um papel na geração do que os gregos chamavam de ekstasis, ou êxtase, em que saímos temporariamente de nós mesmos e somos transportados para outras vidas e culturas.”
(Roman Krznaric, O poder da Empatia – A arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo, Editora Zahar, p.190)
PEDRAS QUE ROLAM NÃO CRIAM LIMO
Dia 30 de abril assistimos A história de Buddy Holly, filme de 1978.
Buddy Holly foi um pioneiro do Rock, que influenciou os Beatles, os Rolling Stones, Bob Dylan, Eric Clapton e Elvis Costello e que morreu no dia que a música morreu.
Ao receber o Prêmio Nobel de Literatura 2016, Bob Dylan se manifestou sobre a questão das letras de música serem consideradas literatura, detalhando suas influências por meio de livros e músicas.
Na música, ele citou como seu herói, Buddy Holly, que no final dos anos 1950, aos vinte e bem poucos anos, misturou country, rock, rhythm and blues.
Buddy escrevia, cantava e tocava as próprias músicas, o que era incomum na época, assim como era incomum um cantor jovem estar despreocupado em fazer o tipo sensual, arrepiando na guitarra de óculos!
CAMARÃO QUE DORME A ONDA LEVA
Para homenagear a cantora Beth Carvalho, falecida no dia 30 de abril escolhi esse ditado, que, além de engraçado é um samba.
Uma mulher de vanguarda, dona de grande voz e empatia, num mundo masculino, com sabedoria e generosidade resgatou sambistas esquecidos, como Cartola, e revelou novos talentos, dentre os quais Zeca Pagodinho.
Segundo a própria Beth, em entrevista gravada em 16 de fevereiro de 2018 :
“O samba é revolucionário, é vanguarda porque é a crônica do dia-a-dia. Se não quiser ler jornal, acompanhe o samba que ele vai dizer o que está acontecendo agora.”
CAUTELA E CANJA DE GALINHA NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM
Até gripe forte apareceu nesse espaço de 10 dias. Foi o Vico quem pegou.
A Sonia Hirsch – autora de Atchiiim! – tem um blog de onde copiei a receita de canja a seguir:
“… comida de gripe é aquela velha canja tradicional brasileira que veio da China e da Índia junto com os marinheiros, nas caravelas. O arroz, branco ou integral, deve ser cozido em bastante água por 3 horas, no mínimo. Quanto mais cozinhar, melhor fica. Se galinha caipira houver, cozinhar junto até ela desmanchar; caldo de galinha ajuda a dissolver muco. Temperar com alho, cebola, aipo, alho-poró, pimenta, azeite extravirgem, pouco sal ou shoyu, salsinha, hortelã. Tomar essa canja à vontade até melhorar.”
No livro Atchiiim! da editora Correcotia encontrei ótimas recomendações, além dos desenhos maluquinhos e lindos da Eva Furnari.
Até breve!